Foto: Victor Moriyam (Getty Images)

A tristeza me consome quando penso que por tantos e tantos anos nossos direitos vêm sendo roubados por pequenos grupos que sempre dominaram o país, que apesar de tão vasto, tão forte, tão plural nunca poderia chamar de “meu”.

Roubam minha dignidade como ser humano, ao me reduzir a mero objeto de valor estético e sexual;

Roubam minha liberdade de ir e vir, quando o crime de estupro é sofrido devido à roupa que se estava usando naquela noite;

Roubam minha capacidade de decidir o que é melhor pra mim, e isso inclui ter ou não filhos e na hora que eu quiser. Quando prezo por minha autonomia, sou taxada de criminosa;

Roubam o direito de exercer a religião que me convém, ou talvez nenhuma, e com isso posso sair à rua e levar pedradas como resposta;

Roubam meu direito de receber o mesmo salário que um colega de trabalho, ainda que eu tenha igual formação acadêmica, ou até superior, só por eu ser mulher; A mim são também destinados os empregos com as piores remunerações, os mais desvalorizados, os mais subalternos;

Roubam minha auto-estima, ao determinar que eu siga um padrão impossível de ser alcançado, fazem com que eu me odeie e não aceite meu corpo, meu cabelo, minha personalidade, minhas origens, meu caráter;

Roubam minha capacidade de opinião, de crítica, de reflexão, ao me deparar com uma mídia oligárquica, dominada por não mais do que 6 famílias, que distorcem, mentem, omitem, perseguem, julgam, condenam, com o único objetivo de se favorecerem e sobreviverem visto a decadência que as comete;

Além de roubarem direitos pelos quais vimos lutando por tantos anos, ainda me infligem um retrocesso. Como se não bastasse, agora querem roubar o único direito, além de o da vida, com o qual eu nasci: o do sufrágio universal. Aquele com o qual a soberania popular é alcançada em plenitude.

Estão me assaltando, tirando de mim o que eu tenho de tão precioso: o meu voto – quando exerço minha cidadania, ainda que seja apenas de 2 em 2 anos. Eu acordei, fui à urna, depositei minha confiança em uma candidata, ela assumiu o seu cargo legitimamente, e querem destituí-la inconstitucionalmente e nos impor alguém em que jamais se votou.

Como vamos explicar às próximas gerações que voto no Brasil não vale nada, a não ser que se coadune com os interesses da plutocracia que sempre dominou o país?

Bate-me uma tristeza, uma desesperança, ao ter consciência de que aqui nós somos ninguém e os uns são tão poucos. Ao ver roubado o único mínimo que ainda pude fazer para buscar melhorias na sociedade para todas e todos. Talvez ainda reste alguma força em um combate que já sabemos que tem vencedor. Num país em que a justiça enxerga, tem lado, partido, cor, sexo e classe social.

A vontade de ir embora é maior, mas eu sei que vou ficar. Resistir. Não aceitar. Lutar.