Quando eu pensei que o homem que eu acreditava amar fosse voltar um dia, eu imaginava que ele chegaria portando nada que não fosse a verdade, o sentimento verdadeiro, a sua face, o seu corpo, a sua voz suave, o seu abraço sincero. Nada de buquês, bombons, ursinhos, etc, etc, isso, pra mim, não representa muita coisa.
Apesar do pouco que convivemos outrora, eu achava que nos conhecíamos bastante, que algo me ligava a ele, ele era único pra mim – assim como todas as pessoas que já fizeram parte da minha vida em algum momento e as que ainda o fazem -, assim como qualquer carinha que eu tenha ficado um dia: ele era único, e eu achava que eu fosse única pra ele, assim como cada mulher que ele havia se relacionado no passado.
Únicas.
Somos únicas.
Mas parece que o machismo deturpa essa ideia e resume todas aquelas que fazem parte do gênero a uma coisa só.
Coisas.
Objetos.
Desprovidas de qualquer inteligência, personalidade, vontades e desvontades, desejos, sonhos, sentimentos, ambições, GOSTOS particulares, gostos peculiares.
“Mulher é tudo igual, só muda a idade”.
Foi o que ouvi, foi o que me confirmou que ele tinha essa ideia sobre as mulheres, que ele não conseguia enxergá-las como seres humanos distintos, singulares, que elas são, então, como utensílios totalmente substituíveis. Estar com uma é como estar com qualquer outra, descartar é fácil, assim como logo arranjar uma próxima, também.
Por isso que ele, ao não entender o que é gostar e admirar uma mulher e valorizá-la justamente por ela ser única e por ela ser a pessoa com quem ele escolheu ficar, entre tantas outras nesse mundo gigante, ele segue apenas um MANUAL que o machismo vomitou e pensa que isso vá agradar, vá conquistar, porque ele ouviu falar que mulheres gostam de flores, e mulheres são todas iguais, então ‘eu vou comprar umas flores e está tudo resolvido’.
Não que eu não tenha gostado das flores. Eu tenho as fotos delas até hoje. Num primeiro instante, eu fiquei muito confusa, num segundo instante, estática, num terceiro, agradeci de forma meio seca, num quarto, eu larguei pra lá… tirei umas fotos e acabou que minha mãe que cuidou delas.
Porque pra mim, valia muito mais estar com ele ao meu lado. Valia muito mais eu saber que ele ficava comigo justamente por tudo que eu SOU, por todas as minhas características, que às vezes seguem um ‘padrão’, mas muitas vezes, não. Que ele queria ir descobrindo aos poucos esse labirinto, se perder nele e também se encontrar. Que se ele tivesse me dado dadinhos de caramelo teria me deixado mais feliz, e que, quando eu fiz uma coisa que ele reduziu a “mulheres são todas iguais”, que antes ele me perguntasse o motivo, que ele reconhecesse o que fez para que eu tivesse agido dessa forma.
Nem todo homem vai ser fanático por futebol (meu ex italiano é uma prova viva, ele não ligava nem um pouco e eu me surpreendi, tá vendo, nada a ver).
Nem toda mulher gosta de ir ao salão de beleza (e nem todas tem dinheiro pra isso).
Nem todo homem gosta de passar o domingo jogando vídeo-games.
Nem toda mulher gosta de perder tardes vendo vitrines de shopping centers…
Nem todo homem tem que reproduzir o machismo que nos reduz a coisas ou objetos de posse, descartáveis.
Nem toda mulher gosta de flores.
Procure conhecer a pessoa com quem você se relaciona, você vai se surpreender, é uma das melhores coisas que um relacionamento pode proporcionar. Procure aprender com aquela pessoa, procure se apaixonar por aquilo que você descobre a cada dia. Saiba que ela nunca será igual a uma pessoa que você se relacionou anteriormente e nem vai ser como uma próxima se você vier a se relacionar, o que é mais interessante, mais empolgante, mais fascinante. Deixe de lado essas reduções que apenas desvalorizam a pessoa que você diz ser sua parceira, que você diz amar. Deixa o machismo de lado…? Se liberte disso, você e sua parceira.
E surpreenda-se.