Originariamente escrito em 09.02.2016 / Das experiências no Cursinho

Vida de concurseira não é fácil. A concorrência é extremamente alta, as vagas são poucas, os certames estão mais escassos e nos demanda certa flexibilidade, pois muitos concursos bons nos levam a lugares antes desconhecidos e bem remotos.

Porém, vejo que muitas amigas e colegas que namoram ou já são casadas têm uma enorme dificuldade para decidir fazer uma prova fora e a maioria acabada desistindo. É um dilema mesmo, e uma dificuldade ainda maior para aquelas que já possuem filhos ou filhas.

O contrário nem sempre é verdadeiro e é até muito comum. Quantas mulheres esposas já não renunciaram tudo para seguir seus maridos? Quantas namoradas abrem mão de alguns de seus sonhos para viver mais os sonhos de seus namorados?

Isso foi algo institucionalizado e naturalizado em nossas vidas, e eu não acho que os homens tenham tanta culpa por se sentirem livres para se estabelecer profissionalmente e não ter que renunciar a relacionamentos. Eles são incentivados desde pequenos a fazer isso, e não há problemas em namorar, pois geralmente as mulheres acabavam seguindo seus passos.

E é engraçado quando eu parei para pensar e percebi que, desde muito nova, sempre tive o sonho de ter uma carreira profissional brilhante, o que contava com que eu fosse livre para me mudar pra onde fosse, e, assim, nunca me imaginei em um relacionamento sério com alguém, pois isso seria um empecilho, isso iria me prender.

Por que? Porque o meu parceiro não poderia me seguir e deixar a carreira dele para trás. Nem que fosse por um momento, eu não poderia bancar as nossas contas, pois isso é inadmissível, é vergonhoso para um homem.

Porém, se fosse ele com esses planos, a gente poderia ficar de boas. Eu já ouvi histórias de homens que passaram em ótimos concursos e foram para a Pindamonhangaba, casados, com filhos, e isso não destruiu o casamento. Eles sempre iam às suas cidades nos fins de semana, sempre em contato com as esposas, os filhos. Ele podia, pois os filhos estariam muito bem cuidados pelas esposas… Agora, imagina o contrário? Eu mesma não consigo ver isso ainda na prática. A mulher passa num concurso excelente, vai pro fim do mundo e  visita sua família nos fins de semana, tranquila com sua carreira brilhante, pois seu marido cuida muito bem dos filhos.

Eu sei que devem existir casos assim, mas eles são bem incomuns. Por isso que, quando a mulher abre mão de algumas coisas pela família – ela o faz mesmo que inconscientemente -, ninguém vê isso como um gesto nobre ou com pena, pois isso é tido como obrigação. Uma mulher que “deixa pra trás” seu marido e seus filhos por carreira? “Que tipo de mulher é essa? Que irresponsável”!

Quem nunca pensou assim? (E quantas e quantas pessoas ainda pensam assim…)

Por isso que, e digo que infelizmente, percebo que muitas mulheres bem sucedidas e que servem de inspiração para mim ou são solteiras, ou se casaram bem depois de terem suas carreiras consolidadas.

Nesse momento da minha vida, tenho que admitir que ser solteira me confere uma flexibilidade enorme em relação às minhas escolhas quanto ao futuro, e as oportunidades acabam se tornando maiores. Porém, acho triste pensar assim e mais triste ainda em saber que é algo que não vai mudar tão cedo.

Eu também acredito que, se for para dar certo, a distância não acaba com um relacionamento, mas exige mais cuidado, atenção, confiança e compreensão – nem todo mundo quer arriscar. Passar em um concurso pensando em voltar para sua cidade natal nem sempre é uma boa pois isso pode demorar. A “solução” mais fácil, e mais triste, é quase sempre desistir e assim, postergar sonhos, deixar passar grandes oportunidades.

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