Foto da capa: O Cafezinho

Antes de o golpe se consumar (vejo dessa forma, mesmo que ainda não tenha havido o afastamento definitivo de Dilma, com a sua cassação por 8 anos), muito do que aconteceu nesses três meses já era bastante previsível para quem se opunha a toda essa afronta à Democracia.

Eu temia, porque sabia que o que estava por vir não era bom nem pra mim, nem pra ninguém, e fiz o que estava ao meu alcance para evitar, ainda que tenha sido muito, muito pouco (fui às ruas, compareci a todos os protestos pela democracia e pela legalidade constitucional em minha cidade). À medida em que as coisas foram tomando rumo no governo ilegítimo do PMDB, eu ficava triste, mas não surpresa.

E olha que isso é só o começo.

1.Nomeou como Ministros apenas homens brancos

Logo de cara, já deu para perceber para qual rumo a política seguiria com o golpe: o de retomar, literalmente, a velha política, quando 100% dos atores políticos eram homens, brancos e mais velhos. Mesmo que esse perfil ainda seja o da maioria de nossos congressistas, no âmbito do Executivo, nos governos petistas, pudemos ver uma maior diversidade de atores que ocupavam os ministérios. Isso é fundamental para dar visibilidade e viabilidade às lutas e às demandas das minorias na sociedade – mulheres, negras e negros, homossexuais -, já que esperar benevolência do grupo que pode ser opressor é ilusão demais.

A mensagem foi passada e o mundo inteiro pôde ver. O lugar das minorias, nesse governo golpista, é fora da esfera pública, e o seu destino é continuar na marginalização. Ao mesmo tempo, ficou bem claro que a ideia que temos de política do Brasil, que nos remete à época do coronelismo, e o que faz muitas pessoas terem rejeição a ela, será colocada em voga, novamente – uma política suja, com um corpo político formado por homens envolvidos com altos esquemas de corrupção, incapacitados até mesmo intelectualmente, com idéias conservadoras ou extremamente conservadoras, mas endinheirados e poderosos. Os velhos homens brancos “senhores de engenho”…

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A velha política e uma turma de investigados. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

 

2. a) Extinguiu Ministérios importantíssimos para o progresso social como o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e o MDS (que fundiu com o MDA, criando algo sem noção como o “mdsa”, em minúsculas mesmo.)

A extinção desses ministérios é uma conseqüência da mensagem que ele deu logo de cara de como seria esse governo, exposta no item 1. Extinguir o Ministério das Mulheres foi fácil, foi um desprezo total às lutas contra a desigualdade de gênero, o machismo, o patriarcado, a misoginia, o controle do corpo da mulher pelo Estado e tudo mais que nos deixa em um fosso em relação à igualdade de direitos entre os gêneros. Afinal, revistas que não devem ser lidas deram o recado um pouco antes de o golpe acontecer: as mulheres devem cumprir o seu “papel”, que é somente na esfera privada, “no lar”, a política não é lugar para elas, conseqüentemente, suas lutas continuarão invisíveis. Isso é um enorme retrocesso.

O MDS era o Ministério responsável pela articulação e pelo controle dos Programas Sociais do Governo Federal, entre eles, o mais conhecido, o Programa Bolsa Família. Já sabíamos que o grande objetivo dos golpistas era desmantelar os programas sociais, que, por incrível que pareça, custam muito pouco aos cofres públicos, se comparados, por exemplo, com a folha salarial dos altos cargos do governo, como deputados, senadores e ministros de tribunais superiores.

Pra quê um MDS quando a extinção de grandes programas sociais acontecerá num governo como esses?

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O progresso assusta aqueles que nunca querem perder o poder total em uma sociedade tão plural. Foto: juventude.gov

 

b) Extinguiu a CGU, um dos principais órgãos de controle interno do Poder Executivo

O senhor golpista não fez questão alguma de esconder a laia a onde pertence e nomeou seres extremamente corruptos, como já comprovado por meio de investigações, para compor o seu governo (incluindo ele mesmo). Extinguir a CGU foi um meio para ele e seus pares não serem investigados e autuados, o que inevitavelmente aconteceria, dado que a CGU era um órgão eficiente e sério. No lugar, criou um tal de Ministério da Transparência, apenas para constar, e cujo Ministro foi afastado por conta de envolvimento esquemas de corrupção…

É tudo muito auto-explicativo!

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O caminho ficou livre para os corruptores com a extinção da CGU. Foto: Jornal GGN

 

3. Assim que golpeou no Executivo, o aumento dos mais de 41% para o Poder Judiciário foi aprovado pelo CN, sem mais delongas

Para mim, o Poder mais corrompido e o mais atuante no golpe de 2016 é o Poder Judiciário. E pensar que uma das coisas que mais motivaram os togados foi esse aumento, que custará bilhões aos cofres públicos (segundo o congresso em foco, o impacto será de R$ 58 bilhões até 2019), para seres que ganham salários já extremamente altos e completamente desproporcionais em relação aos demais cidadãos e cidadãs brasileiras.

Aumentar R$14 no PBF não pode, mas dar 41% de aumento ao PJ, o que fará com que o teto remuneratório dos Ministros do SFT chegue a mais de R$40 mil por mês em 2019, pode. Aliás, em 01.06.2016 já foi aprovado o aumento do teto para R$ 39.293,38. Isso porque, segundo os sensacionalistas do MF, há em um “rombo” de R$170 bi nas contas do governo…

Santa incoerência. Ou santa inocência de quem acredita nisso.

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Militantes Políticos no Poder Judiciário. Foto: Portal 25 horas

 

4. Aumentou as concessões da Rede Globo, dando autorização para fazer parcerias com novos sócios em várias capitais do país.

Sem dúvidas, no golpe jurídico-midiático-parlamentar de 2016, temos, em cada esfera, os maiores protagonistas. Se no âmbito jurídico temos o STF e o MPF como líderes, no Congresso tivemos Eduardo Cunha e sua Trupe, na Mídia, temos a detentora do 4° poder e maior de todos: a Rede Globo, grande autora e articuladora do golpe sujo contra a democracia.

Interesses financeiros, claro, sempre estão a frente dos golpes por ela protagonizados. E logo nos primeiros dias de governo ilegítimo, eu recebi por email, o decreto que autoriza essas novas concessões.

Segundo o Portal GGN, por meio de explicações de PHA, essas novas concessões darão permissão à emissora a fazer parcerias com empresas estrangeiras, estratégias essas que serão tomadas para sobreviver à crise econômica e inevitável (ou eles acham que televisão sobreviverá à era da internet? Os jovens que o digam) que a acomete.

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Finalidade máxima do golpe estampada em uma foto. Foto: Jornal GGN

 

5. Abertura do Pré-Sal

Por fim, e como já era de se esperar, o governo golpista e ilegítimo já anunciou as mudanças na exploração do pré-sal com a abertura a empresas estrangeiras e também outras atitudes entreguistas, como o fim do nosso fundo soberano.

Uma parte já foi vendida para uma empresa norueguesa, por R$2,5 bi, valor muito menor do que valeria, segundo especialistas da área. Ainda que a Petrobras mantenha o controle da exploração, juntamente com essa empresa estrangeira, isso já significa uma grande mudança na estatal, em direção à privatização e à perda de autonomia e liderança no setor petrolífero do país. Ademais, o caminho está muito mais livre para que o projeto de lei do entreguista José Serra passe no Congresso Nacional.

O valor dessa venda está muito longe do necessário para cobrir déficits nas contas da estatal e é também muito menor do que os custos da operação lava-jato, que vem trazendo enorme prejuízos às contas públicas do país.

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Ter o “país de volta”, para alguns, é desacreditar no próprio potencial e entregar suas riquezas ao grande capital privado estrangeiro. Foto: Rfi.fr

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Há outros atos terríveis que em menos de 3 meses o governo ilegítimo tomou, porém, esses 5 refletem bem para que o golpe foi dado e também explica o comportamento de seus principais atores, que culminou no afastamento da presidenta democraticamente eleita.

Faltou dizer que o golpe também deixou felizes conservadores de direita e fascistas que não sabem o que é democracia e não conseguem vitória nas urnas. Porém, os benefícios que o governo golpista gerará não os beneficiarão. A não ser que sejam banqueiros e que façam parte do 1% da população brasileira. O que, na maioria das vezes, não é o caso.

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Golpe não faz bem a ninguém… Foto: Uol