Foto: Redeto (Créditos)
Eu fui criança na era FHC, cresci na era Lula e me formei na faculdade durante o governo Dilma. Por muito tempo eu fiquei satisfeita e até um pouco acomodada por ter, durante minha formação humana e política, vivido com a esquerda no Poder Executivo Federal. Tanto que eu nem era engajada na política. Eu ia às urnas, apertava o 13 (pro meu pai, pra minha mãe, e finalmente em 2010, pra mim), ficava feliz e aliviada, porque obtivemos vitórias democráticas seguidas, e era isso aí. O país, finalmente, estava crescendo e incluindo os mais pobres e marginalizados nas suas pautas principais. Como isso podia ser ruim?
Estava tudo indo tão bem no 1° governo Dilma, a popularidade da presidenta estava tão alta, o seu governo era tão inclusivo, que eu não conseguia compreender o estouro das manifestações de junho de 2013. Aquilo me pegou de surpresa. Eu fiquei mal, eu me senti impotente. Eu pensava que não podia fazer parte daquilo, porque era o partido no qual eu votava e confiava que estava no poder. Era a mulher que eu ajudei a ser eleita como presidenta. Era o governo que mais se aproximava dos meus ideais para uma sociedade mais justa e igualitária.
E eu não fiz parte daquilo. Eu me orgulho disso.
Hoje nós podemos ver o verdadeiro significado das famosas “jornadas de junho”, que começaram em São Paulo e se alastraram para diversas cidades do Brasil. Realmente não era por R$0,20, não era por causa da Copa do Mundo (aqueles que saíram às ruas foram os mesmos que compraram os ingressos caríssimos para assistir aos jogos da Copa), não era só pra colocar máscaras, destruir concessionárias de automóveis e arremessar coquetéis molotov ao ar. Aquilo foi o começo do desmonte da figura de uma mulher correta, idônea, da criminalização de um partido (que já vinham fazendo diuturnamente desde 2003, só agravou) e da ascensão de figuras reacionárias e fascistas no cenário político brasileiro.
Eu estava no 7° período da faculdade e vi muita gente engajada nessas manifestações. Eu sempre me questionava, será que essas pessoas sabem o que estão fazendo? Estão manifestando contra um governo que mais investiu na educação superior, criou novos cursos, expandiu programas de financiamento, aumentou os recursos destinados às universidades, criou programas com bolsas integrais para intercâmbios no exterior. Eu sei que nem tudo era perfeito e que temos sim que reivindicar direitos e melhorias, independente de ser a esquerda ou a direita na cadeira do Executivo, mas quais eram as pautas dessas pessoas? Qual era, exatamente, a finalidade daquilo tudo?
Nunca vou me esquecer de um carro que ficava na saída da UFMG com a adesivos e slogans do grupo de direita “Vem pra Rua”. Uma menina estava com a cara pintada e distribuindo adesivos. Eu nem cheguei perto. Será que ela sabia de fato sobre esse grupo? Que o seu líder esteve envolvido em falcatruas nos EUA e que possuía proximidade com líderes de partidos como o PSDB?
Aliás, todos os movimentos e líderes desses grupos reacionários, que de maneira completamente hipócrita diziam-se “apartidários”, sempre estiveram envolvidos com partidos. SEMPRE.
Grupos como o MBL, com seus líderes mirins que acham que sabem mais que professores universitários, nunca revelavam a fonte dos seus recursos. Essa é também a característica de outros grupos de extrema-direita ou fascistas, como o tal de “Revoltados Online”. Eles apenas diziam que eram “doações”. Cobravam transparência do governo, mas omitiam de onde vinha seu financiamento. Mais tarde, foi revelado que muitos de seus membros vão se candidatar para as eleições municipais desse ano por partidos como o PMDB e o PSDB.
É muita cara-de-pau, e mais triste é saber que até hoje seus seguidores compram o discurso barato e forjado de que esses grupos são “apolíticos” e que militam pelo combate à “corrupção”. Se assim o fosse, eles seriam ligados a partidos tão corruptos? Posariam ao lado de corruptos? Fariam reuniões com corruptos? Eles mesmos seriam tão corruptos?
Esses grupos que mobilizaram essas “manifestações”, que nasceram em 2013, principalmente no ambiente virtual, conseguiram, contudo, fazer com que pessoas fossem às ruas, ainda que estas sempre estiveram tomadas, tradicionalmente, por movimentos de esquerda.
Sabemos que o que eles queriam era, no início, impedir a reeleição de Dilma. Não deu certo pela via democrática: não importa. Eles conseguiram pela via do golpe, da ilegalidade, da violação constitucional. Mobilizaram as massas, geralmente aquelas pessoas mais alienadas politicamente, que compraram um discurso falso, mas de fácil assimilação (a corrupção foi criada e é exclusiva do PT, é a causa dos todos os males, e, portanto, deve ser exterminada, não importa se pra isso se anulem votos e violem a constituição).
Dava-me ânsia de vômito cada vez que eu via pessoas saindo com a camisa da CBF pedindo a volta da Ditadura Militar em 2015. E bastou uma única mobilização da massa de manobra em 2016 para que se legitimasse a destituição de uma presidenta eleita democraticamente pela via do golpe jurídico-midiático-parlamentar.
A minha intuição estava certa. 3 anos depois, podemos ver os resultados daquilo que teve como o slogan “o gigante acordou”. Acordou do sonho de ser um país democrático e inclusivo. Voltou para a era ditatorial (ditadura branda), do elitismo, do classismo, da desigualdade e da exclusão social.