Foto: Grimorio da Luna (Créditos)

Muitos são os xingamentos proferidos por uma pessoa que quer acabar com a auto-estima de uma mulher. Ou eles se relacionam com a nossa vida sexual, ou com nossa aparência. E não é isso que nos define numa sociedade onde prevalece o machismo e a dominação masculina?

Os mais comuns, a gente já sabe, são piranha, puta, feia, gorda e bruxa, que também é associado à aparência e à vida sexual da mulher – a bruxa é feia e “solteirona” (sabemos que tanto a vida sexual ativa quanto a inativa de uma mulher é motivo para misoginia).

O nosso valor se reduz à nossa aparência física. A mídia vem ressaltando isso há anos. Desde criança somos levadas a crer que nossa aparência é o que vai definir o que seremos e o que não seremos no futuro (não as nossas competências, o desenvolvimento dos nossos talentos, o sucesso na vida profissional). A busca pelo alcance dos padrões de beleza, sempre inatingíveis, é incessante e cruel. As indústrias dos cosméticos lucram muito com isso. A dominação masculina se sobressai ainda mais, quando se encontra diante de um grupo subjugado e fragilizado por conta da falta de autoestima, autoconfiança e autosuficiência.

Aí, aparecem as bruxas. Eu conheço mulheres que já foram xingadas de bruxa. Eu já fui chamada de bruxa. Mas quem eram essas mulheres, afinal?

Nesse artigo, vou utilizar as bruxas como um dos símbolos do feminismo e fazer um paralelo com as mulheres independentes do nosso século.

Durante a Idade Média, muitas foram as mulheres perseguidas e mortas pela sociedade da época, representada em sua máxima pela Igreja Católica, por meio dos Tribunais de Inquisição. Porém, não apenas a Igreja perseguia e condenava à morte essas mulheres, mas também os grupos e as classes dominantes foram responsáveis pelo julgamento e pela morte daquelas consideradas Bruxas.

Essas mulheres detinham aquilo que era acessível exclusivamente aos homens, num contexto extremamente patriarcal, em que Igreja e Estado se confundiam:

  1. O conhecimento
  2. Uma profissão
  3. A independência

As Bruxas dispunham de um enorme conhecimento sobre plantas e ervas medicinais, que era passado entre as mulheres da comunidade em que viviam e da própria família. Assim, elas possuíam uma vida muito influente em suas comunidades, atuavam profissionalmente ao curar enfermos e formavam um grupo coeso, o que afrontava o patriarcado, que determinava a presença das mulheres unicamente no âmbito doméstico, de forma submissa e subserviente.

Para o Catolicismo da época, toda e qualquer prática ou qualquer outro tipo de conhecimento que pudessem confrontar o seu poder eram considerados como paganismo. Por isso, a desculpa para perseguir e matar mulheres de forma cruel, vivas e em fogueiras, era dizer que elas exerciam pacto com o diabo (exerciam magia negra). Porém, nós sabemos que essa dicotomia do bem e do mal é uma marca do Cristianismo, e nem sempre outras religiões compactuam com esses mesmos dogmas.

A perseguição a tantas mulheres, que não eram exclusivamente as “feias”, “velhas”, com verrugas no nariz, mas qualquer uma que não se encaixava no papel determinado às mulheres pelo patriarcado, provocou um verdadeiro genocídio do sexo feminino[1] nessa época, e foi puramente uma discriminação de gênero. Esse fato não difere muito do que acontece nos dias de hoje, claro, em outro contexto e com outras facetas (falarei mais sobre feminicídio em breve).

Incomoda muito uma mulher ter tanto conhecimento, uma profissão brilhante, autonomia e independência, o que se opõe completamente à divisão sexual do trabalho, à baixa auto-estima causada pela necessidade extrema da mulher no alcance de padrões de beleza e à necessidade de a mulher casar-se e compor uma família nuclear.

As Bruxas são, dessa forma, o oposto da mulher que não quero mais ser sob a dominação masculina. Por isso, ao ser chamada de Bruxa, eu nada mais fiz do que agradecer. Afinal, eu vejo e conto a história por outros ângulos que não aqueles do discurso do opressor, e na desconstrução dessa imagem completamente distorcida das Bruxas, e é esse tipo de mulher que eu busco ser.

Assim, eu vejo que as bruxas representam a resistência e a liberdade femininas, e tudo aquilo que precisamos para nos desatarmos das amarras da dominação masculina.

Busque a sua independência (financeira e psicológica, em vários sentidos), ame-se, desenvolva sua autoconfiança, pois você é linda e inteligentíssima. O céu é nosso limite. Seja a mulher da sua própria vida. Seja bruxa. 😉

 

[1]ANGELIN, Rosângela. A “caça às bruxas”: uma interpretação feminista. Revista Espaço Acadêmico, n°53, Outubro de 2005.

 

OBS: Esse assunto sobre Bruxas e Bruxarias é um tanto controverso quanto polêmico. Eu busquei me ater à superficialidade mesmo, até para não falar besteira. Porém, qualquer adendo ou qualquer detecção de erros, por favor, me mande um email! 😀