Foto: PT no Senado
O golpe jurídico-midiático-parlamentar de 2016 foi ontem, definitivamente, consumado. Mais um dia 31 sombrio na nossa triste história. Além da conspiração de setores do Judiciário sob liderança do STF, da Mídia controlada por 6 famílias e do Parlamento corrompido, o golpe foi, em sua essência, machista e misógino, como a Presidenta reiterou diversas vezes.
Como não nos esquecer dos ataques à imagem de Dilma desde o primeiro dia de sua posse? Textos que especulavam e questionam sobre sua sexualidade, insultos quanto à sua personalidade, discussões e ironias sobre suas roupas (sempre tão finas e elegantes), dúvidas constantes sobre sua capacidade de governar, simplesmente por ser mulher.
Como não nos lembrar de manifestações de ódio que envolviam sua imagem, como um infame adesivo que simulava um estupro em Dilma? (Aquilo foi inacreditável); ou cartazes em “manifestações” cujos escritos não eram sobre ações de governo, mas sim sobre o físico e a vida sexual de Dilma (eu vi coisas como “vadia”, “dragão”, “feia”, “doida”, típico do ódio às mulheres…)


É recente a entrada das mulheres na vida pública e consequentemente na política. No Brasil, conseguimos o direito de voto somente em 1932, durante o governo de Vargas, após muitos anos de luta das sufragistas (muitos ainda pensam que foi algo “natural” ou benevolente, mas não teria acontecido se não tivesse havido a luta das mulheres por esse direito). Nossa representação na política é completamente desproporcional ao número de habitantes brasileiras. Se somos, segundo o IBGE, quase 51% da população brasileira em 2016, no Congresso Nacional, as mulheres representam menos de 10% dos Parlamentares. O número de cargos ocupados por mulheres no Executivo dos estados e dos Municípios também é pífio, assim como nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras de Vereadores.
Se o rumo das nossas vidas é definido pela política – por quem legisla, quem executa e quem julga – como as pautas e os direitos das mulheres podem ser prioridade quando nós não estamos devidamente representadas nos Poderes da República? É por isso que termos elegido Dilma Rousseff à Presidência da República, o cargo mais alto na Nação, foi mais que uma vitória. Foi uma quebra de paradigmas, mexeu no status quo. Foram tantos aqueles que não aceitaram, tantos que ainda acham que as mulheres são apenas do “lar” (ou trabalham para outros, no lar)…

O golpe na Democracia, que afastou Dilma do cargo que ocupava legitimamente, alcançado por meio das urnas, mostra-nos que nossa estrada rumo à conquista de direitos ainda é longa, ardilosa, tortuosa. Porém, as palavras da Presidenta nos dão força para seguirmos firmes nessa luta.
“Às mulheres brasileiras, que me cobriram de flores e de carinho, peço que acreditem que vocês podem. As futuras gerações de brasileiras saberão que, na primeira vez que uma mulher assumiu a Presidência do Brasil, a machismo e a misoginia mostraram suas feias faces. Abrimos um caminho de mão única em direção à igualdade de gênero. Nada nos fará recuar.” Pronunciamento de Dilma Vana Rousseff, em 31.08.16, após o golpe.
Nós conquistamos muitos direitos quando um governo mais voltado para a inclusão social esteve democraticamente no poder. Eu sei que há muito ainda a ser feito, porém, temos que reconhecer que muito também foi feito (para citar temos a lei Maria da Penha em 2006, a LC150 em 2015, que regulamenta os direitos trabalhistas das domésticas e lei do Feminícidio também de 2015).
Os Ministérios de Dilma também eram diversificados e inclusivos. E ela criou o maravilhoso Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, que foi logo extinto pelo governo usurpador.


Uma mulher na Presidência nos mostrou que uma nova política é possível – uma política que não seja feita apenas por homens/brancos/heterossexuais para seus pares, mas para todas e todos que compõem a nossa tão diversificada sociedade.
A luta está apenas começando e esse golpe não pode nos desanimar. Acreditemos no nosso poder, nas nossas competências e nas nossas capacidades. Lugar de mulher é também na política. Saibamos enfrentar todo o machismo e toda a misoginia que atingiu Dilma e também todas nós.
Por mais mulheres na política. Não nos derrubarão. Não nos calarão.