Foto: Chelle Galvão/Tumblr

“Para ter inimigos, não precisa declarar guerras, apenas diga o que pensa”. Martin Luther King.

Umas cervejas a mais, pessoas com quem convivia por vários anos e em quem confiava, assunto de política e me torno uma pessoa inconveniente, non grata.

Grupos de mensagem instantânea no celular, mostro uma visão diferente a parentes, proponho diálogo e recebo somente ataques e desdém.

Não ganhei nada com isso e digo que não valeu à pena.

Jargões, chavões, memes, frases feitas e às vezes uma dose de ódio.

O assunto política está em voga, desde pelo menos as últimas eleições federais; muitos passaram a se interessar e a ter voz em suas redes sociais, outros passaram a dizer que não suportavam, mas mesmo assim adoravam dar uns pitacos.

Diante de uma mídia hegemônica, que anula o direito à pluralidade de informações, vieses, visões e opiniões, ser contra o senso comum é uma afronta. Ser de esquerda e ter ideias progressistas é apoiar o regime ditatorial da Coreia do Norte. Ter opiniões e argumentos concretos e propor um diálogo mais maduro, que não seja com base em memes e ataques, é ser arrogante, é se achar. Apoiar e defender a Democracia é ser RADICAL e clamar por um regime stalinista no Brasil.

Andar na contra-mão, nadar contra a corrente no ambiente em que vivo, de classe média e branco, fabricado pura e simplesmente pelo senso comum, fez com que eu me tornasse uma pessoa chata, radical, insuportável e “doutrinadora”.

Amizades que valem sua opinião política – se você não concordar que “o PT é o câncer do Brasil”, que “a roupa da Dilma parecia uma capa de sofá”, que “o Lula tem que ser preso”; se você disser que O GOLPE É GOLPE, se você defender direitos das minorias, seus próprios direitos e até os deles – você não tem mais vez.

Mas eu ERREI.

Errei em começar a falar desse assunto em ambientes que não eram adequados – falar do tempo, da chuva, teria sido tão melhor. Errei em não conseguir esconder que tudo que estava acontecendo, de fato, estava me abalando, por ser envolvida com as questões políticas há mais tempo, por ter opinião própria, por ter minhas lutas.

Eu deixei transparecer: não escondi o que pensava pra ficar bem na fita. Errei por passar horas escrevendo textos, respondendo a frases bobas, de gente que apoiava a Ditadura Militar.

Errei também por muitas vezes generalizar liberais, conservadores e manifestantes de direita ao chamá-los de fascistas – nem todas as pessoas que pensam diferente de mim devem ser, necessariamente, assim.

Eu me expus e me indispus. Não faria isso de novo.

Há pessoas, lugares, ambientes em que o assunto política é bem-vindo, é colocado em pauta e discutido de forma saudável, por quem sabe o que falar e por quem quer escutar. Prometo a mim mesma que estarei restrita a esses ambientes, quando eu quiser falar de política (política = cotidiano, vida).