Hoje eu vou mostrar um lado conservador que estou reafirmando à medida que escrevo!
Há pessoas que vêem os relacionamentos amorosos como algumas das equações de física da Tese de Doutorado do Stephen Hawking.

Realmente, nenhum tipo de relacionamento pode ser trivial. E, de antemão, exponho a ideia de que todo e qualquer tipo de relacionamento exige de nós alguma espécie de compromisso. Portanto, questiono a concepção do que seja um “relacionamento sem compromissos”.
Todo relacionamento também exige de nós uma dedicação. Por mais que eu seja uma pessoa independente, eu ainda preciso dizer aos meus pais que cheguei em casa, que está tudo bem, como um mínimo de respeito e de consideração. Se eu não regar todos os dias a plantinha da amizade com as minhas amigas, não demora para que o contato se perca e nossa amizade se esfacele. Assim como tenho que trabalhar 8 horas diárias, 5 vezes por semana, ou entregar um trabalho da faculdade no prazo colocado pela professora, todo relacionamento que mantenho também me gerará responsabilidades e obrigações.
Muitas vezes, esses compromissos são tácitos. Em qualquer relação social que estabelecemos, há coisas que fazemos sem pensar que aquilo pode ser uma espécie de compromisso, como um bom dia à motorista do ônibus e um obrigada ao atendente do caixa. Tratar xs colegas com cordialidade não é um compromisso menor do que finalizar uma tarefa laboral.
Nos tempos em que podemos jogar pessoas no lixinho só porque talvez a luz da foto não estava favorável, ou podemos bloquear alguém e só ver uma carinha sombreada num fundo cinza, os relacionamentos parecem poder passar por nós como a água da cachoeira que escorre entre os dedos. E, aí, fica mais fácil pensar que tá tudo bem em manter “relacionamentos sem compromissos”, o que quer que isso signifique.
Se for em questão de poligamia, eu creio que isso sempre existiu para os homens, não é algo novo, nem recente, nem extraordinário. Muito por conta da divisão mulher bela recata do lar x “puta”, muitos homens sempre mantiveram relacionamentos extraconjugais sem perder noites de sono. Então, se um cara não quer assumir um compromisso porque não quer ser “fiel”, soa mais como uma mera desculpa mesmo, já que, infelizmente, a infidelidade masculina nunca fora tãão condenada pela sociedade assim.
O poliamor pode sim ser novidade para muitas mulheres. Sem querer fazer qualquer tipo de julgamento, mas sempre é importante lembrar que a corda pende para o lado mais fraco. A ideia de que somos naturalmente monogâmicas e sempre queremos namorar e casar é bem errada, mas acho que nunca devemos ceder, pensar menos em nós mesmas e topar um relacionamento aberto se isso não for exatamente o que procuramos. O que nós sentimos importa e isso deve vir sempre em primeiro lugar! A falta de compromisso pode levar a uma falta de consideração e a um descaso que acho muito incompatíveis com contatos que podem ser tão íntimos entre duas ou mais pessoas.
Muitas coisas devem pairar nas mentes pensantes mesmo daquelxs que dizem “serem de ninguém” e, muitas vezes, acabam sem nem mesmo saber quem são. As mulheres passam por dilemas que são realmente inacreditáveis às vezes. “Se você der na primeira noite, o cara não vai mais te ligar. Se você não der, ele vai perder o interesse e não vai te ligar”.
Mas onde exatamente está o medo em uma ligação (atualmente, numa mensagem do “zap” que pode até mesmo ser apagada para todos!)? Será que mais errado não seria não dizer aquilo que a gente quer pra outra pessoa? Do tipo, eu quero ficar com você, eu quero ter um relacionamento com você, ou, não quero mais ficar com você, não quero ter nada com você. E, aí, todo mundo pode ser feliz. Digo que não há nada melhor do que buscar ser uma pessoa bem resolvida e encontrar e se relacionar com pessoas bem resolvidas, para o que quer que seja, ainda que seja para o tal relacionamento sem compromissos (mas que pelo menos diga que é isso que quer!).
Tem vezes que a gente não está mesmo no momento para relacionamentos amorosos e os seus benditos compromissos… Não que a gente não vá ter outros três milhões e quinhentos compromissos vida afora, mas pra namorar, não dá, e isso é muito, mas muito normal. Aparece aquela pessoa que a gente procura botar defeito, não consegue, mas, inexplicavelmente, não estamos a fim de começar um relacionamento. O importante é que isso seja colocado, então, bem às claras, pois não temos direito de cozinhar ninguém e nem de ajustar, egoisticamente, a coisa pra ficar de um jeito que esteja bom apenas para nós mesmxs.

Porém, eu sinto que há, para muitas pessoas, e em diversos momentos da vida, um medo mesmo de se relacionar ou imaginar estar vivendo um relacionamento amoroso.
Pode ser clichê, mas eu vejo a vida como um espelho que reflete nossas energias, nossos pensamentos, nossas atitudes. E, num relacionamento, vale bastante para familiares e amizades também, a pessoa com a qual nos relacionamos pode ser, muitas vezes, esse próprio espelho. Muitas coisas que fazemos, muitas coisas que pensamos e, principalmente, nossas reações se materializam nas nossas interações. Assim, a forma como reagimos a uma atitude, a forma como interpretamos um pensamento, a forma como julgamos um comportamento só poderá vir à tona quando estamos em um relacionamento. E isso é fundamental e incrível para nosso crescimento e nosso amadurecimento.
Será que fugir de relacionamentos, compromissos e obrigações não seria uma espécie de fuga de nós mesmxs? Do medo de que, realmente, quanto mais nos conhecemos, mais nos cobramos, mais compromissos estabelecemos, mais responsabilidades adquirimos, mais obrigações temos a cumprir, como parte essencial para aquisição de maturidade e para a evolução pessoal.
Quando nos conhecemos melhor e sabemos bem o que queremos, somos capazes de fazer escolhas melhores e mais condizentes com aquilo que esperamos. Quando nos preparamos para um relacionamento, e o processo é longo e por vezes tortuoso, não podemos nos contentar com aquilo que não seja minimamente compatível com o que temos a oferecer e com o quanto queremos aprender ainda mais.
No fim, acredito que a tentativa de qualificar algum relacionamento, que pressupõe compromissos, (os quais pessoas que estão em sintonia e queiram o mesmo irão cumpri-los sem vê-los como um fardo, ainda que sim, não seja simples nem fácil) com um “sem” no meio disso tudo, é apenas uma invenção bem antagônica para um dos muitos medos vividos pela espécie humana, dos quais, de longe, está o processo se conhecer e de ser fiel, não só a outrem, mas a si.