Foto: M de Mulher
Desde que passei a usar o coletor menstrual, há 2 anos, minha vida mudou radicalmente, e para melhor. Sei que tudo é questão de adaptação e esta varia para cada corpo, mas eu realmente acho que vale à pena dar uma chance para o copinho e para o nosso bem-estar.
Como quase tudo na vida, o coletor menstrual tem seus prós e seus contras. Entretanto, hoje em dia, eu só consigo ver contras em relação ao absorvente, que era o que eu usava e usei por 13 anos.
Nesses 13 anos de uso de absorvente, eu prejudiquei o meu corpo e também o meio-ambiente. Se eu fizer alguns cálculos por aproximação, eu devo ter usado quase uns 2.500 “modes”, como dizia minha mãe, desde minha menarca, e isso aí deve corresponder a uns bons quilos de plástico e de algodão jogados na natureza.
O sangue vazava do absorvente e me constrangia, principalmente nos primeiros anos de vida menstrual. O sangue ficava no absorvente, misturava com os componentes químicos do produto e causava mau-cheiro, o que contribuiu para eu abominar algo que é tão natural ao corpo da mulher. O sangue se espalhava pelo absorvente, ia para lugares impróprios e parecia que era uma enxurrada quando, na verdade, isso acontecia pelo próprio formato que o absorvente possui, e por ser tão raso. Se eu usava absorvente sem abas, o sangue escorria pelos lados. Se eu usava absorvente com abas, estas me causavam incomodo e ficavam me pinicando.
O mundo tem nojo do sangue da menstruação. Já li sobre lugares que a mulher é considerada “impura” toda vez que fica menstruada, ou seja, 1 vez por mês, essas mulheres mudam de status por mais ou menos 7 dias. Glória Steinem tem um texto fenomenal que diz que se os homens menstruassem, a menstruação seria algo próximo da divindade, que traria superioridade e poder a quem a detivesse e ainda causaria inveja ao gênero que não menstrua! Tudo é questão de poder quando se criam e se desfazem tabus.
O coletor menstrual nos possibilita quebrar tabus como este: o contato com o nosso sangue, a forma como lidamos com ele e como encaramos a sua vinda mensal. A cada vez que tenho que esvaziar o copinho, passo a ver o sangue menstrual com mais naturalidade, normalidade. O odor nada tem a ver com aquele que eu sentia quando usava absorvente, pois este sim fedia, devido aos componentes químicos que se misturavam à menstruação e o tempo que ficavam por lá.
Eu me sinto mais segura com o coletor, e os vazamentos diminuíram bastante.
Eu também economizo tempo e dinheiro: fiz um investimento de uns R$90 por uns 5 anos ou mais.
Porém, também tive que aprender algumas coisas e me adaptar a outras. Realmente pode ser mais demorada e incômoda a colocação do copinho, até encontrarmos a melhor posição e o melhor modo de fazê-lo. Isso é questão de tempo, hoje em dia, já o coloco até de olhos fechados.
Também admito que é mais difícil trocar o copinho em um banheiro público, por exemplo, pois temos que higienizá-lo para colocá-lo novamente, o que exige uma pia e um local limpo para sentar, no meu caso.
Ainda assim, acredito que essas barreiras podem ser fáceis de superar, ainda mais quando colocamos na balança as vantagens trazidas pelo coletor.
Na questão da saúde do nosso corpo, é legal que o copinho, feito completamente de material antialérgico (silicone), fica bem externo ao canal vaginal. Não devemos colocá-lo muito profundamente. Para inseri-lo, geralmente o jeito mais fácil é deixá-lo em formato de “C” e, quando sentirmos que deu um vácuo, ele está encaixado de forma correta. O OB, ao contrário, é colocado de forma muito mais profunda, e este absorve muitos líquidos essenciais ao corpo além do sangue, coisa que o copinho não faz.

A higienização do copinho também é simples e rápida. Sempre que o trocamos, e o intervalo de troca não pode ser maior que 12 horas, devemos lavá-lo com sabonete neutro antes de recolocarmos. Ao fim do período menstrual, devemos fervê-lo em um recipiente próprio, durante uns 5 minutos.
A aquisição do coletor é majoritária na internet, e é bom pesquisar bastante antes de escolher a marca e o modelo a comprar, de acordo com as características e as necessidades de cada mulher.
Os dias de menstruação não me assustam mais e nunca deveriam tê-lo feito algum dia. Não me sinto limitada (lembro-me de que, quando era adolescente, torcia para não ficar menstruada na praia, pois como eu iria colocar biquíni com absorvente?), de alguma forma contribuo com menos plásticos e lixos jogados na natureza, tenho mais conforto, mais higiene e não sinto qualquer nojo ou asco por algo que vem de dentro de mim, que é natural, normal, faz parte da vida.
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