Foto: Blasting News
Muitas pessoas se escandalizaram com o último videoclipe lançado pela cantora Clarice Falcão, por conter nudez – o clipe mostra as genitálias de homens e mulheres durante toda a sua produção.
Sem me ater a críticas à música, ao clipe em si, à arte, ou seja lá o que for, o que me chamou atenção foi a enorme gama de comentários contra a cantora por ela ter escolhido fazer um clipe que mostra genitálias de pessoas.
Muitas das justificativas para a represália foram em relação ao apelo sexual, à pornografia, à nudez “desnecessária”, à falta de respeito com seus fãs adolescentes.
A nudez, por si só, não deveria nos transtornar, mas os corpos, principalmente os femininos, são tão sexualizados e objetificados, que, como diz Nelson Rodrigues, de fato toda nudez é hoje castigada. As pessoas não estão conseguindo mais separar as coisas, mas não se atêm ao verdadeiro problema: o consumo em massa, desproporcional, viciado e descomunal em pornografia.
Por isso, eu me pergunto: será que esses mesmos moralistas se revoltam dessa maneira com a quantidade de sites pornográficos existentes na internet? Será que, ao receberem diariamente vídeos pornôs em grupos de whatsapp, muitos até de revenge porn, eles se opõem a quem os enviou e os denuncia? Será que eles não acessam esses sites? Será que eles não abrem os vídeos que recebem?
Sinceramente, eu não acredito. Quem condenou a cantora dizendo que para quê isso, já basta o tanto de pornografia existente na internet, esquece que, exatamente, a cantora ter optado por um clipe com nudez não vai fazer aumentar o acesso a sites pornográficos – eles já possuem audiência máxima, independente de clipes ou não.
A pornografia está em todo lugar, por todos os lados. Foi-se o tempo em que se encontrava apenas na deep web. O acesso é livre e constante por milhões de usuários, ainda mais agora em tempos de smartphones, whatsapp. Fora canais de televisão fechados, mais um monte de filmes que antes eram produzidos em VHS, DVD… E eu não vejo gente revoltada contra isso, aliás, vejo muitos que defendem o acesso à pornografia, com respaldo em liberdade de expressão, etc.
E a grande maioria da produção pornográfica é feita para os homens. Engana-se quem pensa que “o homem não é tão importante, que o foco é a mulher” (já me disseram isso) – na verdade, a mulher é majoritariamente objetificada, assediada e muitas vezes estuprada, e o prazer do homem é o grande propósito desse tipo de produção.
Algo mais grave ainda são os vídeos de revenge porn, que viralizam e acabam com a vida da vítima, mas são os que mais vêm atraindo a atenção dos consumidores de pornografia. Tanto é que, segundo o documentário da Netflix “Hot girls wanted”, um produtor de vídeos pornográficos simula situações de revenge porn, em que as mulheres fingem não serem atrizes, como se tudo fosse real e o vídeo fora vazado, para ganhar mais visualizações.
Condenável. Mas nenhum cidadão de bem escandaliza.
Daí nós vemos quanta falsa moralidade existe nesses revoltados do Facebook. Se tivéssemos acesso aos históricos de sua navegação na internet, sou quase certa de que derrubaríamos esses justiceiros, pregadores da moral e dos bons costumes, etc, em dois tempos.