Foto: Julia Krugher (FTC – todos os créditos para reprodução).
Estou muito feliz em apresentar, aqui no blog, a nova série de textos que vou escrever. É sobre um assunto tão urgente e necessário que, certamente, poderá definir a continuidade da nossa espécie, e de tantas outras, neste Planeta.
Falar sobre sustentabilidade nos faz despertar sentimentos angustiantes: nós ficamos apreensivas, porque parece ser difícil reverter toda a destruição ambiental que vimos causando desde, talvez, a 1º revolução industrial. Tem horas que nos sentimos bobas em pensar que o que fazemos não causará qualquer impacto, já que a maioria continua a não se interessar por esse tema, ou a não achar que possui qualquer responsabilidade sobre a degradação dos nossos ecossistemas.
Da mesma forma, apresentar soluções sustentáveis para o nosso dia a dia parece ser algo inatingível, pois a maioria não irá renunciar ao conforto de usar sacolas plásticas no supermercado, e não mudará alguns de seus valores, como o de consumir freneticamente como forma de bem-estar.
Temos que viver a “sustentabilidade até o limite”!
Eu já fui uma pessoa assim. Já achei que seria impossível mudar certos hábitos que me causavam prazer ou comodidade, por conta da natureza e do meio ambiente, palavras estas que já me soaram tão distantes e abstratas. Ainda continuo com muita dificuldade para abandonar algumas praticidades do cotidiano que, certamente, gerarão lixos e outros impactos no meio ambiente.
É por isso que, atualmente, eu digo: nós devemos viver a sustentabilidade até o limite, porque eu sei que há coisas que serão impossíveis de nos desvencilharmos dentro do modo de vida que levamos. E esse modo de vida urbano é, genuinamente, insustentável. Para nos deslocarmos nas cidades, somos completamente dependentes de energias não renováveis. Ao morarmos em caixinhas em meio a dezenas de andares, torna-se quase impossível fazermos reaproveitamento da água da chuva ou utilizarmos a energia solar.
Os bens de consumo são cada vez menos duráveis para que os troquemos a todo instante. Mesmo os que são feitos para serem duráveis mudam de modelos rapidamente, tornam-se “ultrapassados” e isso nos estimula a comprar novos, porque todo mundo quer ficar na moda. É o que acontece com as tecnologias, com os automóveis, com as nossas roupas. Para termos uma abundância de alimentos, e dos mais variados tipos, às nossas mãos, é necessário que a produção agrícola seja cada vez mais monoculturizada, intensiva, que se utilizem insumos e venenos para que esta seja perene, o que vai contra os ciclos da natureza. São necessárias milhares de embalagens plásticas, ou em isopor, para que todos os produtos fiquem tão bonitinhos e fáceis de serem carregados às nossas casas.
Sustentabilidade x o modo de vida frenético nas grandes cidades
Ao vivermos nas cidades, nós nos afastamos complemente das cadeias de produção de tudo aquilo que consumimos. Não fazemos ideia do trabalho degradante, físico e mental, de um homem que destrinchou o corpo de um animal que, agora, está no supermercado. Não paramos para pensar nas inúmeras doenças desenvolvidas por trabalhadores que pulverizam agrotóxicos nas monoculturas, as quais são destinadas, majoritariamente, aos animais criados para o abate (o mesmo que, no futuro, estará embaladinho e desprovido de qualquer elemento que remeta àquele pedaço de corpo que um dia teve vida). Não temos noção de que aquela roupa da moda, que compramos na loja de departamento, utiliza trabalho escravo em sua confecção. Também não sabemos que, para produzir somente uma camiseta de algodão, utiliza-se quase 4 mil litros de água limpa.

Os 3 Pilares da Sustentabilidade. Fonte: Desenvolvimento Sustentável
Tudo se torna tão abstrato que é até compreensível que a maioria das pessoas não se importe, ou pense que tenha que se importar com sustentabilidade. É como se só tivéssemos uma única maneira de agir, de viver, de sobreviver. Portanto, buscar viver de forma sustentável nas grandes cidades é nadar contra a correnteza – mas, se nos esforçarmos, conseguiremos obter a força necessária para vencê-la, ainda que parcialmente!
Bom, para que as falas não fiquem tão filosóficas, venho com exemplos.
Um dia desses, estava conversando com o meu noivo sobre o quanto estamos nos esforçando para vivermos de forma sustentável. Fazemos desde as coisas básicas até aquelas um pouco mais trabalhosas, as quais irei apresentar a vocês nos próximos textos. Porém, tem horas que se torna impossível não comprar algum alimento que venha embalado em plásticos, ou algum outro industrializado que venha embalado em materiais que vai saber se são recicláveis ou não. Por mais que nos esforcemos, nossa sacola de lixos recicláveis se enche com certa facilidade. Vira e mexe eu me vejo querendo comprar um vestido novo, ainda que eu já tenha vários que não uso há anos. E o quão tentador é querer ter batons das mais variadas cores, os quais, ainda que naturais, vêm em recipientes plásticos que nunca serão reutilizados e reciclados? E o quanto me sinto mal quando compro patês para a minha cachorrinha que, apesar de serem enlatados, e o alumínio ser um componente com uma alta taxa de reciclagem no Brasil, vêm com uma tampinha plástica sem propósito? E todas as vezes que faço compras pela internet, que não há como negar que não seja para minha única e exclusiva comodidade, e vêm aquele monte de plásticos para proteção?
Enfim, é muito impossível nos livrarmos de tudo, mas se nos livrássemos do máximo que pudermos, já seria quase perfeito.
A sustentabilidade vai muito além da reciclagem de resíduos sólidos
Falando sobre a produção domiciliar de lixo, que é somente um dos pilares da sustentabilidade, no Brasil, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS 2010), somente 30% dos resíduos sólidos têm potencial reciclável. E destes, apenas 3% são de fato reciclados. E é importante lembrarmos que a reciclagem não é um processo infinito, pois embalagens que já foram recicladas vão deixando de sê-lo, até que um dia virarão lixo comum.
Ao falarmos somente dos resíduos plásticos, de acordo com a WWF, por meio do “G1”, somente 1% é reciclado aqui no Brasil. Isso é muito pouco, diante das mais de 11 milhões de toneladas que produzimos anualmente, o que nos garante o 4º lugar no ranking dos maiores produtores globais de lixos plásticos. Por fim, o que mais temos escutado é que os oceanos terão, daqui a alguns anos, mais plásticos do que peixes. São mais de 10 milhões de toneladas jogadas neles, por ano, segundo “O Globo”. Diversos animais marinhos morrem ao ingerirem plásticos ou quando ficam presos em redes de plástico, por exemplo. Isso sem contar os microplásticos, que estão fora dessa estatística e que nós e os animais estamos ingerindo sem saber.

A poluição e a contaminação dos oceanos por resíduos sólidos, principalmente o plástico, são responsáveis pelas inúmeras mortes de animais marinhos. Imagem: Revista Viral
A sustentabilidade começa muito antes da reciclagem. Na verdade, a reciclagem deve ser sempre a nossa “última opção”, ainda que ela seja muito importante como fonte de renda para diversas cooperativas de catadoras e de catadores, cujos proventos familiares vêm, unicamente, do recolhimento dos resíduos sólidos recicláveis.
Dessa forma, antes de qualquer coisa, nós precisamos repensar a necessidade de certos componentes, como, por exemplo, uma caixa de plástico que contém ameixas. Nós realmente precisamos comprar ameixas embaladas? Por que não as comprarmos soltas? Depois, nós devemos recusar a embalagem. Por vezes, mesmo em feiras orgânicas, produtores nos oferecem embalagens para colocarmos as frutas. A solução é simples: é só levarmos as nossas próprias sacolas. Posteriormente, nós devemos reduzir a quantidade dessas embalagens. Quando compro cogumelos, quase sempre eles já vêm embalados em isopor. Mas se não há propósito para embalar ameixas, eu tenho a obrigação de não as comprar embaladas! Bom, se não houve uma alternativa e só havia ameixas embaladas, para que essa embalagem não seja somente mais um plástico de uso único, eu posso reutilizá-la, seja para guardar outras frutas no futuro, ou para fazer algum artesanato. Agora, se realmente não houver nada o que fazer com ela, eu vou colocá-la no lixo reciclável. É por isso que a reciclagem é algo essencial, mas que deve ser sempre a nossa última opção!

Os 5 Rs da Sustentabilidade. Fonte: Brasil Escola
Para além de somente reciclarmos resíduos provenientes de coisas que compramos, nós devemos conhecer toda a sua cadeia de produção: a sustentabilidade, ou a sua ausência, são elementos presentes desde a forma de extração ou da produção de uma matéria-prima, até a sua transformação em um produto ou em um alimento para o nosso consumo. Aquilo que compramos em um supermercado não brotou do nada: muitos processos ocorreram, diversas pessoas estiveram envolvidas em toda a cadeia de produção e, nesse interim, muito lixo foi gerado, muitas toxinas foram jogadas no meio ambiente, muitos trabalhadores foram explorados, muitos animais sofreram.
Os “eixos” da sustentabilidade: uma sequência de textos que está por vir, aqui no DesC!
Para aprofundarmos o assunto, eu gostaria de apresentar cinco “eixos” para vivermos a sustentabilidade na prática. Como dizem onde eu trabalho, eu venho me esforçando para ser a “própria sustentabilidade”! Quero mostrar que, sim, isso é plenamente possível, mas também exige um pouco mais de esforço, pois temos de tomar atitudes que vão muito além de separar, para a reciclagem, uma embalagem plástica. Porém, é tudo tão gratificante, que eu brinco que é um caminho sem volta!
Nós somos responsáveis por tudo que acontece no mundo e é nosso dever tentarmos mitigar as entropias que causamos ao meio ambiente.
Escolhi dividir essa temática em eixos, pois a análise pormenorizada de cada um deles eles é fundamental para compreendermos o modo de vida destrutivo que estamos vivendo. Porém, haverá a parte boa! Existem formas simples para mitigarmos os impactos ambientais que causamos, e neles eu mostrarei que viver de forma sustentável nas grandes cidades é possível! Serão os eixos:
- Beleza natural e sustentável: Cosméticos, maquiagens e cuidados pessoais
- Alimentação consciente
- Casa sustentável: Limpeza, manutenção e decoração
- Slow fashion: vestir-se de forma consciente
- Menos é mais: a sustentabilidade x o consumismo (bens de consumo gerais)
Outras temáticas
- Viajante sustentável
- Sustentabilidade no trabalho
- Cachorro sustentável
- Casamento sustentável
- Bebê sustentável
Nessa sequência de textos, falarei mais profundamente sobre cada eixo: o que podemos evitar para diminuir os diversos impactos ambientais; receitas de produtos naturais, como cosméticos, maquiagens e produtos de limpeza; receitas veganas essenciais para ninguém pensar que é impossível viver sem produtos de origem animal. Também compartilharei sobre produtos naturais que venho conhecendo e utilizando e dividirei, com vocês, minhas descobertas, bem como minhas dúvidas. Nenhum texto terá qualquer tipo de patrocínio, pois este blog não é minha fonte de renda. Embarque comigo nessa nova aventura!!
Referências:
https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=29296
https://www.fragmaq.com.br/blog/entenda-politica-nacional-residuos-solidos-pnrs/
https://www.ecycle.com.br/1259-oceano-de-plastico.html
https://www.saneamentobasico.com.br/apenas-3-lixo-reciclado/
https://ecycle.com.br/3833-impactos-ambientais-camiseta-de-algodao
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rota%C3%A7%C3%A3o_de_culturas
https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=29296
https://www.fragmaq.com.br/blog/entenda-politica-nacional-residuos-solidos-pnrs/
https://www.ecycle.com.br/1259-oceano-de-plastico.html
https://www.saneamentobasico.com.br/apenas-3-lixo-reciclado/
https://ecycle.com.br/3833-impactos-ambientais-camiseta-de-algodao
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